“Indústria de design corporal” é uma expressão sociológica utilizada para tratar de questões identitárias, como as que dizem respeito ao hábito de modificar o padrão normal do corpo como forma de “construir uma identidade”, “destacar-se do rebanho”, ou mesmo sobressair-se em meio à multidão.
Os adeptos da tatuagem maori parecem enquadrar-se bem nesse grupo, que a cada dia vem conquistando mais e mais adeptos; alguns deles capazes de simplesmente construir uma nova pele sobre a original; como uma espécie de “vestimenta maori”, que os torna seres exóticos e singulares em meio à “normalidade”.
Não se sabe ao certo como, ou a partir de quando, exatamente essa “nova onda” começou. O que se sabe mesmo é que os maoris (termo que significa “local”) representaram para a Nova Zelândia o que os tupis representaram para o Brasil: foram os primeiros habitantes desse gelado, exótico e original país do sudeste do Oceano Pacífico.
O tempo passou, algumas manias surgiram, outras desapareceram, até que, finalmente, a partir de algum momento já no ano 2000, as tatuagens maoris tornaram-se um verdadeiro fenômeno entre artistas, jogadores de futebol, celebridades, entre outros famosos.
Personagens que logo fizeram com que cobrir quase todo o corpo com esses originais traçados se tornasse um verdadeiro símbolo de distinção.
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E um conjunto de traços espiralados, com formatos simétricos, longos, na cor preta, e que até parecem compor máscaras, totens e símbolos, são as marcas registradas desse tipo de tatuagem, com os seus diversos significados, a depender do traçado escolhido por cada usuário.
Tatuagem maori: origens e características
Tatuar o corpo é uma tradição milenar da tribo maori. Entre eles esse costume é chamado de “moko”, que consiste na aplicação de diversos traçados sobre o corpo com os mais variados formatos.
Ele é essencialmente masculino, e é uma forma de determinar as origens e tradições de um guerreiro, definir a sua personalidade, nível de ascensão sobre outros membros da tribo, etc.
A depender do traçado, os homens da tribo podem compor uma verdadeira biografia nos seus corpos, além de apontar a sua posição dentro da comunidade, simbolizar força, coragem, conquistas, entre outras simbologias que, obviamente, não demorariam a ser copiadas pelo “homem branco”.
O rosto é o local tradicionalmente escolhido pelos nativos para a confecção das suas tatuagens maoris; e a depender do seu volume, traçado ou características, teremos ali a indicação da sua importância dentro da comunidade ou a sua posição no seio da tribo.
Como dissemos, o “moka” é uma tradição essencialmente masculina, no entanto, as mulheres também podem aplicá-lo, geralmente de forma mais discreta, limitando-o aos lábios superiores, queixo e narinas, basicamente.
Morrer em combate com um rosto todo ele traçado dessa forma configurava-se como uma verdadeira honra para esses homens no passado!
Tanto é assim que, em meados do séc. XIX, havia quem fosse capaz de pagar altas somas em dinheiro pela cabeça de um guerreiro morto em combate, desde que o seu rosto apresenta-se as inconfundíveis marcas ancestrais.
Por fim, os mais privilegiados ainda podiam desenhar as nádegas e boa parte das suas pernas com o “Puhoro” – uma espécie de derivação do “moko”; só que nesse caso exclusiva dos guerreiros, que dessa forma apontavam a sua ascendência e origem ancestral.
Como é feita uma tatuagem maori?
As tatuagens maoris são traçadas de forma geométrica, com uma simetria precisa, em espirais bastante originais, além de círculos e expressões simbólicas.
Apesar de serem padronizadas, o que se diz é que um verdadeiro moka é um evento único, ou seja, não podem existir duas tatuagens iguais em nenhuma comunidade do mundo.
Existe um tipo, por exemplo, que parte da região entre os olhos, desce por sobre o nariz e curva-se nas bochechas, como uma espécie de cavanhaque.
Já outras podem partir da região entre os olhos, seguir em volta das sobrancelhas e criar um desenho bastante característico sobre a testa.
Linhas horizontais marcam bem os lábios. E os queixos, narinas e lábios das mulheres podem ser marcados como forma de determinar a sua passagem para a fase adulta.
As origens paternas também são reveladas em traçados no rosto dos homens (geralmente no lado direito). Enquanto o esquerdo deve contar a sua história materna (ancestralidade, parentescos, origens, etc.).
Em um total de 8 categorias, é possível distribuir as tatuagens maoris exclusivas de homens e de mulheres. E cada uma dessas categorias representa uma conquista, status social, ascendência, posição de prestígio, entre outros qualificativos.
Mas, como não poderia ser diferente, ao serem adotada pelos “homens brancos”, o que se viu foram as tatuagens no rosto perdendo o seu prestígio, para dar lugar aos traçados nos ombros, braços, pernas, costas, entre outras regiões que pudessem ser exibidas sem comprometer a identidade do usuário.
A técnica e os significados
O processo de confecção de uma tatuagem maori segue basicamente as mesmas técnicas para a confecção de qualquer tatuagem. Uma máquina de tatuar é utilizada para a criação de um conjunto de traçados que devem obedecer a alguns critérios.
Só que, antes de mais nada, é necessário saber que uma tatuagem maori considerada original deverá ser feita no seu país de origem, a Nova Zelândia, ou então por algum membro da tribo (o “Ta Moko”) que porventura esteja habitando aqui no Brasil.
E em primeiro lugar ele precisará conhecer a sua história, personalidade, sonhos, aspirações, entre outras características pessoais suas. E somente com base nesse histórico é que a sua tatuagem (com características únicas) deverá ser feita.
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Os mais tradicionais poderão optar pelo velho e doloroso método de utilizar facas feitas com dentes de tubarão, cinzéis, talhadeiras e martelos para produzir os traços. Porém, os não tão conservadores, poderão optar por não submeter os seus clientes a um ritual tão marcante.
Providências tomadas, agora ambos estão prontos para iniciar o ritual da confecção de uma tatuagem maori; que poderá ser uma “Ahu ahu mataroa”, que significa o que conquistou batalhas por meio do esforço físico.
Uma “Arraia”, espécie de símbolo de dualidade. Uma “Coruja”, símbolo de sabedoria.
Mas também poderá decidir-se, com base no seu histórico, por um “Koru”, que significa “iniciação” ou “crescimento”.
Um “Unaunahi”, “prosperidade” e “saúde”; um “Pakati”, valentia e disciplina; uma Torção simples, o símbolo da eternidade; entre diversas outras maneiras de deixar bastante visíveis as marcas da sua personalidade no corpo.
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